A COP30 tem sido palco para a disseminação do greenwashing, bem como reflexo das contradições da política ambiental do governo Lula
Uma pesquisa realizada pelo Eko Moviment/Datafolha revelou que 81% da população brasileira acredita que o Governo Federal deveria adotar mais ações de combate à urgência climática do que tem feito atualmente. Mas por que essa percepção de ineficiência ainda persiste, considerando que o governo Lula 3 foi eleito sob a promessa de reconstruir a política ambiental brasileira e recolocar o país no protagonismo internacional perdido durante os anos de retrocesso?
De fato, algumas medidas foram simbólicas e relevantes, como a nomeação de Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente, a redução de 32,4% no desmatamento em 2024 e a decisão de sediar a COP30 em Belém do Pará, no coração da Amazônia.
Entretanto, as contradições são evidentes: o mesmo governo que defende a sustentabilidade sanciona parcialmente o chamado “PL da Devastação”, autoriza a Petrobras a perfurar poços de petróleo na Foz do Rio Amazonas e tolera o greenwashing de grandes corporações que lucram enquanto se pintam de verde na COP30 (para entender o que é “greenwashing” leia o artigo: “Sustentabilidade ou greenwashing? As contradições por trás do discurso verde das grandes corporações.”).
A Conferência das Partes (COP) é uma convenção anual criada pela ONU em 1994, em que representantes de diversos países se reúnem para discutir e firmar acordos sobre como enfrentar a crise climática global. A trigésima edição, marcada para acontecer em novembro deste ano, em Belém do Pará, no coração da Amazônia, carrega uma forte carga simbólica.
Assim como o plano de desenvolvimento ambiental do governo brasileiro, que prevê desmatamento zero até 2030, a COP30 tem como meta limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C. Mas será que reunir milhares de bilionários e grandes corporações, interessados sobretudo em lucrar, será o suficiente para transformar essas promessas em ações concretas?
A resposta veio bem antes de a COP, de fato, começar. Belém está sendo transformada em vitrine do “desenvolvimento sustentável”, mas por trás das obras e dos discursos oficiais, o que se vê é o avanço sobre áreas protegidas, o apagamento das comunidades locais e a apropriação da pauta ambiental por quem mais lucra com a destruição.
A preparação de Belém para receber a COP30 é apresentada pelo governo como um marco de desenvolvimento e sustentabilidade. No entanto, a principal obra que simboliza esse “progresso” - a construção da Avenida Liberdade, uma rodovia de 13 quilômetros que corta áreas de floresta protegida - escancara a contradição entre discurso e prática.
A obra é parte de um pacote de mais de 60 intervenções urbanas, que o governo estadual chama de “modernização” da cidade para a COP30. Entre os projetos, estão revitalizações de praças, duplicações de vias, retirada de comerciantes de rua, criação de parques lineares e reformas em áreas históricas.
Mas para muitos moradores, o que é apresentado como “desenvolvimento” tem se traduzido em remoções forçadas, perda de renda e destruição ambiental. Pequenos comerciantes tiveram de deixar seus pontos de trabalho para dar lugar a áreas “revitalizadas” para o turismo. Moradores locais perderam áreas de cultivo e fontes de renda, como o açaí. Além disso, a falta de transparência no processo de licenciamento ambiental é denunciada.
Essas mudanças ocorrem de forma brusca e acelerada em uma cidade que há anos luta por melhores condições de vida. O discurso do governo fala em “modernização” e “mobilidade urbana”, mas a pergunta que ecoa entre os moradores é: modernização para quem? Belém agora se torna o cartão-postal do Brasil para os estrangeiros, mas o que restará quando o evento acabar? As obras estão sendo feitas para quem vai passar uma semana na cidade, não para quem vive nela há décadas.
A palavra “modernizar” parece ter dois significados: para o poder público, é pavimentar, construir, mostrar eficiência; para quem vive nas margens da cidade, modernizar seria ter dignidade, saneamento, transporte público de qualidade e respeito à floresta e aos territórios tradicionais.
Enquanto isso, a floresta cede espaço ao asfalto, e os quilombolas, pescadores e comerciantes são empurrados para fora da paisagem que ajudaram a construir. O discurso de sustentabilidade se transforma em greenwashing estatal, em que o meio ambiente é tratado como vitrine política e não como prioridade coletiva.