terça-feira, 26 de julho de 2022

O caso de Klara Castanho e a quebra do código de ética do jornalista

 Por Lais Abreu 


A última semana de junho de 2022 foi marcada pela carta aberta da atriz global Klara Castanho. Em suas redes sociais, a jovem conta que foi vítima de um estupro tempos atrás, engravidou e entregou legalmente o bebê para a adoção. Entretanto, a história não veio a público por vontade da atriz – que, dentro da lei, optou por manter o sigilo –, mas, sim. porque se sentiu obrigada a se posicionar diante de uma série de notícias divulgadas por alguns jornalistas. O caso levanta uma série de questionamentos sobre a ética jornalística no Brasil contemporâneo.  

 

Adelmo Genro Filho conceitua o jornalismo como uma ação cultural criada pelo capitalismo e que possibilita apropriação do conhecimento da realidade a partir da singularidade dos fatos. Atualmente, as redes sociais confundem os temas de interesse público com aquilo que é curiosidade pública, o que faz com que alguns jornalistas tenham como medida a necessidade da audiência, que não deveria ser o fator mais importante. A gravidez de Klara foi tornada pública pela primeira vez em 24 de maio, pelo jornalista Matheus Baldi, mas,  a pedido da jovem, a notícia foi apagada. No entanto, poucos dias depois, Antônia Fontenelle, em uma live, revelou mais detalhes do caso sem citar nomes e no sábado, 25 de junho, o jornalista Léo Dias fez a publicação completa da matéria. 

 

Em sua carta aberta a atriz expõe: “Mas apenas o fato de eles saberem mostra que os profissionais que deveriam ter me protegido em um momento de extrema dor vulnerabilidade, que têm a obrigação legal de respeitar o sigilo da entrega, não foram éticos, nem tiveram respeito por mim e nem pela criança. Bom, agora, a notícia se tornou pública, e com ela vieram mil informações erradas e ilações mentirosas e cruéis”. 

 

Nessa perspectiva, fica o questionamento: até quando jornalistas vão agir fora do código de ética a troco de likes e visualizações e sem punição? O artigo 7º do código diz claramente que o jornalista não pode “expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer outros sinais”.  

 

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) emitiu uma nota oficial sobre o caso e se mostrou indignada com o vazamento de informações, no entanto ainda é necessário mais. A necessidade por um Conselho Federal de Jornalistas (CFJ) é cada vez maior, sendo uma forma de garantir uma profissão mais digna, de qualidade, pautada em princípios e com ética diante da sociedade. A história do CFJ é triste, uma luta de anos que vem sendo silenciada pela vontade dos “grandes donos da mídia brasileira” – como o próprio Grupo Globo, e que em casos como esses são os primeiros a se acharem em um tribunal para condenar os colegas de profissão. No domingo, 26 de junho, o programa Fantástico da emissora exibiu uma reportagem completa sobre a história da atriz e denunciou os jornalistas envolvidos no caso. Mas ainda assim não é suficiente.  

 

Os pedidos de desculpas de Léo Dias e do Jornal Metrópoles vieram, mas, apesar de necessários, são tardios. O que fica são consequências enormes: para as mulheres, para os jornalistas e para a democracia.  


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