quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A crise do Jornalismo e a hipocrisia de quem aponta o dedo

O Estadão denuncia BBC de fazer “jornalismo militante”, mas esquece de olhar para o próprio espelho. A crítica apresentada, coerente em partes, revela menos indignação ética e mais conveniência narrativa de um veículo que, há décadas, oscila entre neutralidade autoproclamada e um moralismo seletivo que também molda fatos segundo o próprio viés 

Por Heloisa Benicio 

O editorial do Jornal O Estado de S.Paulo de 12 de novembro, intitulado “O perigo do jornalismo militante” faz um alerta necessário: quando a imprensa abandona a busca rigorosa pelos fatos e assume o papel de missionária moral, em uma espécie de catequização da opinião pública, a democracia inteira entra em risco. A manipulação editorial da BBC, como apontou o artigo, que envolve falas de Donald Trump e a narração ocultada por alguém ligado ao Hamas, é grave e merece reprovação. Mas é preciso reconhecer a ironia: o Estadão denuncia artifícios que também pratica, embora prefira chamá-los de “posicionamento editorial”. 


Há uma incoerência fundamental quando um veículo historicamente marcado por escolhas políticas explícitas, do apoio ao golpe de 1964 às coberturas seletivas durante grandes crises nacionais, ergue o dedo acusatório contra a suposta militância alheia. O problema em si não é a crítica ao movimento moralista dominante em certas redações, mas sim ignorar o que o próprio Estadão opera, há anos, imerso em uma espécie de militância liberal-conservadora que se traveste de imparcialidade clássica. 


Ao apontar o desequilíbrio ideológico de jornalistas britânicos e brasileiros, o texto parece esquecer que o Estadão, assim como tantos outros veículos, também seleciona narrativas conforme sua visão de mundo - e que isto é tão deletério para o Jornalismo e a democracia quanto o fato denunciado. Basta observar os editoriais em momentos decisivos: os silêncios convenientes, as denúncias infladas, a insistência em pintar determinadas pautas como “radicalismo” e outras como “moderação”, dependendo de quem está no poder. Quando uma notícia é publicada deliberadamente com meias verdades, falta o que é mais caro a um jornalismo vigilante: a objetividade, ainda que a realidade seja contrária à sua visão de mundo. 


Acesse o editorial completo:

https://drive.google.com/file/d/1ZEbHwN7k4ovevfwx2WF53TiVwUlPQk4G/view?usp=drive_link


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